O texto a seguir é sobre uma reflexão que fiz ao terminar de ler o
romance A culpa é das estrelas, do John Green. Desculpem-me se
acabei me prolongando, mas foi processo intenso digerir o livro e seus inúmeros
significados emocionais.
Gosto bastante de observar o céu à noite, mas dia
desses percebi que não fazia isso há muito tempo.
O céu noturno é lindamente hipnótico. Uma vez que
você pare para observá-lo, você é carregado para outra dimensão.
Sempre que observo as estrelas e vejo seus
infinitos (?) pontos brilhantes, eu me pergunto: há quanto tempo algumas
estrelas já estão mortas? Por quanto tempo seu brilho persistirá? Quantas
estrelas jamais vi?
Ao pensar nisso, acabo pensando também nas pessoas.
Será que alguma vez já se sentiram oprimidas pela beleza de um céu noturno
estrelado? Será que já perceberam o maravilhoso milagre que é termos consciência
de nós mesmos, do mundo, do universo? Que a cada dia que passa temos menos
tempo que antes? Que nossa vida não passa de um mero piscar de olhos diante da
infinitude soberana do universo?
São tantas perguntas que acabo com a cabeça mais
cheia do que antes. Ainda que me sinta mais leve.
Apesar da ínfima transição no tempo e espaço, nós
conseguimos deixar nossa marca. É verdade que soa quase infantil, e até mesmo
desesperadora, essa vontade de deixar uma marca, de sermos lembrados. Às vezes,
simplesmente não podemos evitar. Afinal, somos apenas humanos. Ainda assim,
nossos grandes feitos não são materiais como a construção ou a destruição de
coisas. O nosso maior legado são as pessoas.
Não consigo deixar de pensar que o amor, aquilo que
desejamos aquilo que procuramos a vida inteira, é nossa pequena porção do
infinito. Não falo do amor romântico, mas do amor em si, pura e simplesmente. E
tal como não poderia deixar de ser, nós, imersos em egoísmo, que tantas vezes
esquecemos-nos do essencial ao buscar o supérfluo, só percebemos a extensão de
nosso pequeno infinito ao perdê-lo irremediavelmente para o inalcançável mundo
do passado, das lembranças.
O amor, em sua completude, é agridoce. A busca, a
perda e até mesmo sua ausência nos move e define. Tem através das lembranças,
sua presença marcada permanentemente em nosso ser. Embora seja algo abstrato,
sua perda é fisicamente sentida. A capacidade ou não de amar muda as pessoas. E
quando não mais existirmos, nossas lembranças serão os vestígios de amor que
deixaremos aos que ficarem. Personificando, assim, o nosso legado.
Sendo assim, não deixo de pensar que nosso pequeno
infinito é incrivelmente parecido com o infinito céu estrelado de uma noite
qualquer. “Alguns infinitos são maiores que outros”, disse John Green em seu
romance A culpa é das estrelas, no qual cita também um trecho de uma peça de
Shakespeare, “A culpa, meu caro Brutus, não é de
nossas estrelas, mas de nós mesmos”, o qual pode ser interpretado como o fato
do que acontece conosco é fruto de nossas escolhas e não de nosso destino. Mas,
afinal, não somos todos estrelas? Porque mesmo quando todo o pó de nossa
existência tiver sumido, o brilho de nosso pequeno infinito continuará a
iluminar o céu noturno no coração de alguém.